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Frio

Hoje está frio.
E qual a melhor parte do frio?
Senti-lo.
O vento penetra a carne, o sangue, a alma (se eu ainda a tenho)
Congela o cérebro.
E a fala treme.
E o pulso acelera.
E o pálido ar,
E essa dor ríspida na epiderme,
De alguma forma que não consigo explicar,

Me aquece.

Coisas profundas.

Não consigo escrever coisas profundas.
Talvez porque a profundidade esteja nos olhos de quem a lê.

Existem olhos profundos,
existem olhos fundos,
existem olhos triste,

que não conseguem evitar que escorra a água com sal de cada dia,

paulatinamente...

a acumular-se em um poço,
um poço fundo,
um poço profundo,
um poço triste.

E ele transborda.
Transborda com lágrimas.
Pequenas gotas que formaram tamanha profundidade.